15 setembro 2014

Os Sertões e sua importância literária, histórica e reflexiva

Quando se fala de história levando em conta a literatura não se pode ignorar um clássico brasileiro, pré-modernista e também dos vestibulares.
"Os Sertões" de Euclides da Cunha. Um livro que possibilita um entendimento em áreas como antropologia, sociologia, geografia, geologia, história... Do Nordeste Brasileiro, porém história não é simplesmente comprovação de erudição, ela é reflexão do passado e presente (E por que não do futuro?).

"Os Sertões" é dividido em três partes "A Terra", "O Homem" e a "A Luta". Na primeira, como o próprio nome já diz, ele fala da formação geográfica Nordestina; na segunda, a formação dos mestiços; e na terceira, Euclides detalha as expedições de extermínio executadas contra Canudos.
Livro "Os Sertões" de Euclides da Cunha
Publicado pela editora EDIOURO
Os Sertões começou a ser escrito primeiramente com o objetivo de ser uma matéria para o jornal "Estado de S. Paulo", mas o que era pra ser uma expedição jornalística se tornou em uma obra-prima que desmistificou tudo o que a mídia contava sobre Canudos.

Quando o autor foi para Canudos fazer a matéria sobre o arraial, já partia com opiniões formadas (Opinião disseminada pela mídia da época), mas ao chegar no arraial viu que tudo era completamente diferente, o que era dito como restauração da monarquia era na verdade um movimento social e revolucionário com base religiosa promovida por Antônio Conselheiro (Líder do movimento de fundação de Canudos) contra a república autoritária e opressora.
Gravura feita em Xilogravura retratando os discursos
que eram feitos por Antônio Conselheiro por onde o
agitador revolucionário passava.
Voltando ao início do texto... A reflexão do nosso presente e futuro surge principalmente nesse ponto da obra. A mídia disseminou ódio contra a revolta popular que crescia. E dissemina contra as que crescem na atualidade sempre a favor da burguesia (O que ela representa) e enquanto não nos reconhecermos como susceptíveis a diferentes manipulações midiáticas, continuaremos na inércia ignorante que Euclides outrora esteve. Cazuza em 1988 já dizia "Eu vejo o futuro repetir o passado" e esse passado ainda se repete nos nossos anos "2000", por isso a leitura da história como reflexão da atualidade é essencial para uma renovação política e ideológica.

Gravura extraída da adaptação para quadrinhos de "Os Sertões".
Retrata a terceira parte do livro "A Luta". 



Além da questão da mídia, pode se destacar a resistência brava dos sertanejos contra os soldados da república que bem armados, invadiram as terras nordestinas com uma missão de extermínio.
Os sertanejos lutaram junto a sua terra (talvez sem o conhecimento de que lutavam junto a ela), mais ou menos como os Russos fizeram contra o exército de Napoleão e a União Soviética fez contra o exercito de Hitler, o conhecimento do seu ambiente propiciou aos sertanejos ganharem algumas expedições.
Os soldados (Como sempre peças de xadrez controlados por burgueses, feitos para manter a classe baixa na comodidade nada cômoda) não aguentavam o calor que o sol do sertão nordestino aplicava sobre suas roupas pesadas deixando-os assim exaustos...

Mas nem tudo em Os Sertões é um "mar de rosas"... Por Euclides da Cunha ser de uma época em que se negava a mestiçagem do branco com demais cores e etnias, durante "O Homem" são descritas várias notas racistas com termos como "raça superior" e "raça inferior", porém é notável uma contradição... A medida que se ler a obra se percebe também uma mudança de ideia do autor, (É a questão da análise e reflexão que devemos nos cobrar) Euclides passa a admirar o sertanejo, principalmente pela sua disponibilidade de luta pelo que acredita que se deve lutar.
“A raça superior torna-se o objetivo remoto para onde tendem os mestiços deprimidos e estes, procurando-a, obedecem ao próprio instinto da conservação e da defesa.” (Página 49 – Os sertões)
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. (Página 51 – Os sertões)
Acima exemplos dessa contradição e mudança de ideia que é percebida durante a leitura.

Além dessa estética de "Os Sertões", Canudos pode ser considerado um dos grandes eventos mundiais.
Canudos representa para toda classe comunista e anarquista a realização da utopia (utopia?).
Foi a consagração de um movimento revolucionário e puro, onde a existência humana, com o coletivismo e irmandade tornou-se a saída para a opressão da república, e por sair das garras opressoras dos dominantes foram covardemente exterminados. 
E o povo de Canudos? Representaram e representam "A rocha viva da nossa raça".

Cena final da adaptação para o cinema 
da história de Canudos. Dirigido por Sérgio Rezende.