07 outubro 2014

Carta do Editor - Mês #5 Responsabilidade


"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." Apesar de eu não gosto muito dessa frase, fato é que ela faz parte da infância de muita gente. Por que esse é, definitivamente, um dos valores - ou sentimentos, sabe-se lá - que mais cedo se recebe, desde pequeno. Responsabilidade. Em diferentes níveis, obviamente, de passar a poder dirigir, a ter que tomar conta dos irmãos, a até mesmo ter que ficar quieto para não fazer bagunça, o conceito de arcar com suas consequências é um dos mais fortes da nossa sociedade, sim, até hoje.

Ainda sim, há gente falando que nunca fomos tão irresponsáveis. E, por incrível que pareça, pode até ser verdade. A gente aprendeu que a responsabilidade é sempre de alguém, e que ela tem que ser lidada, mais cedo ou mais tarde. Faz muito sentido. O problema é que a gente nunca quer admitir que o problema é conosco. Ou a culpa é do outro, à la Sartre, ou a culpa é até da gente, mas "teve aquilo também que piorou tudo" ou "mas a culpa não é tão minha assim". Tanta aversão gerou um dos fenômenos mais malucos de hoje em dia, que é a pessoa que é preconceituosa, mas que se recusa a ser chamada de preconceituosa, por que assumir que o que você diz não é só sua opinião e que tem reações negativas na sociedade parece ser demais pra muita gente (mesmo não sendo o suficiente para passar a agir de outra forma)

O tema não vem por acaso. O período de eleições sempre desperta na gente a sensação que não temos muito como mudar a situação patética e desestruturada que nossa política vive há tanto tempo - desde que ele existe, talvez. A gente acaba votando no que já conhece, ou no menos pior, e os eleitos são praticamente os mesmos, seja pra bem ou pra mal. A estagnação do cenário político acaba igual, assim como em protestos e movimentos sociais, que historicamente não resultam em mudanças, e a gente acaba se sentindo meio culpado.

Tenho uma amiga que diz, em tom cômico, a seguinte frase: "Lide com as consequências ou as consequências lidarão com você". Pode parecer idiota (e a intenção é essa mesmo), mas ainda acho que ela traz aquela velha sensação que cada um de nós guarda, de que a irresponsabilidade é como um carma, que vai vir puxar o seu pé de noite e destruir sua vida. Como se tivéssemos sempre que tomar conta de tudo que está ao redor, que se não desmorona. Talvez seja por isso essa necessidade de estar sempre atarefado.

Acho que responsabilidade tem que ser encarada não como um lema de vida, não como uma constante, mas apenas como um elemento importante, assim como coragem e motivação, para o primeiro passo de se mudar alguma coisa. Quando se tem plena consciência do que deve ser feito, o objetivo deve ser o foco, e não o medo de não chegar até lá. É o que eu vejo em muitos adolescentes fazendo vestibular, por exemplo, em que um obstáculo a ser alcançado acaba virando um monstro inatingível por pressão - própria ou alheia - numa situação em que algo que era pra ser difícil e positivo de se conseguir se amplifica em algo impossível e indispensável.

Depois de tanto atraso com a carta desse mês, a responsabilidade bateu e resolvemos falar justamente dela, desmistificá-la para entender que ela ela não é um bicho de sete cabeças, nem uma tia chata que te dá bronca, mas na verdade algo indispensável para que, como indivíduos, possamos crescer.